quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Você


A inutilidade é uma qualidade da qual queremos nos distanciar, mas à qual todos estamos submetidos. Ninguém quer ser inútil ao mesmo passo que somos ávidos por inutilidade, em certos momentos.

Pensando bem, nossa inutilidade pode ser muito bem utilizada. Não aos olhos de terceiros, mas aos nossos olhos. Sei lá. Talvez você precise viver mais para si mesmo. Você tem uma carteira de identidade, uma certidão de nascimento, inúmeros documentos que provam que, perante a sociedade em que vive, você é alguém. Você é ( considerado ) alguém, claro, se for útil a esta sociedade. Se não o for, a inutilidade passa a rondar sua vida. Você é perniciosamente declarado um inútil. Um merda. Há tantas palavras. Tantos modos de te excluir, nem vale a pena expor todos aqui.

É bem capaz que você nem se reconheça mais em sua foto 3x4. O que te torna alguém pode não significar mais nada, e a inutilidade está lá, em um pequeno recipiente em seu armário, implorando para ser esgotada. Use-a como quiser. Ou nunca use-a. O que é útil para você? Será que a inutilidade, a seu ver, não é o que há de mais útil neste mundo? Talvez você precise viver mais para si mesmo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pelas Ruas

Nossa, com quantas vidas nos deparamos todos os dias, quantas histórias deixamos de ouvir?

Ao andarmos na rua, ainda mais em uma megalópole, centenas de pessoas cruzam o nosso caminho. Pessoas de todos os tipos. Todos os estereótipos imagináveis e inimagináveis. Ainda bem.

Apesar de tamanha variedade em relação ao aspecto físico, a grande maioria parece carregar o mesmo semblante. Rancor, impassiabilidade, tristeza, não sei. Fica complicado abrir um sorriso. Investimos tanto em comunicação à longa distância, mas somos incapazes de nos comunicarmos pessoalmente. Um olhar meigo. Um sorriso afável. Nada. Qualquer bom sentimento parece ser funesto. As pessoas trocam olhares rápidos, como se sentissem medo uma das outras. Parecem estar enclausuradas em redomas de egocentrismo, enquanto hipnotizadas pelos seus mini-aparelhos eletrônicos. Eleve dois ao quadrado. Continue elevando todos os resultados ao quadrado, até cansar. Um número maior já existe como a memória interna de um chip.

Eleve gestos humanos humano a zero. Simples assim.

Está para chegar o dia em que nos desvencilharemos de nós mesmos, quebraremos este redoma invisível que nos envolve. Um dia, sorriremos, como se retornássemos às nossas origens. Aprenderemos o valor de um gesto. Seremos um pouco mais humanos. Como disse minha amiga, toda vida poderia dar um filme. E nossa, com quantas vidas nos deparamos todos os dias, quantas histórias deixamos de ouvir? Um dia, quem sabe, as ouviremos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009